Até pouco tempo atrás, era muito comum nas ferrovias da América do Norte a presença de um veículo especial na calda dos trens cargueiros. Esse carro especial é (era) o caboose. A função desses vagões de “fundo” era, grosso modo, o monitoramento dos trens, um “olho” que acompanhava atento o desenvolvimento das viagens para detectar qualquer tipo de falha que passasse desapercebida pelo maquinista (caixa quente[1], descarrilamento, quebra de alguma peça, falha no sistema de freios, problema com as cargas etc).
Poucos cabooses ainda são mantidos em suas funções originais, coisa que será mais facilmente encontrada em algumas short lines (pequenos ramais) e heritage railways (ferrovias de preservação). Com a aposentadoria desses veículos nas vias férreas, será muito comum encontra-los em nova função, e das mais nobres: moradia.
Pela sua própria configuração e função, o caboose já é uma casa sobre rodas, o que torna sua conversão em casa a coisa mais simples do mundo, basta tirá-lo da linha, ou não.
Diagrama de caboose de aço.
Não escondo que a ideia de viver viajando sobre trilhos seria um desejo mais do que interessante. Aproveitar o movimento de trens e manter o deslocamento da casa por várias regiões. Hoje sua casa estaria em Belo Horizonte, amanhã você acordaria nela olhando pra Serra da Mantiqueira, em Bom Jardim de Minas, na semana seguinte seu endereço poderia ser a Vila de Paranapiacaba, em São Paulo, em plena Serra do Mar. Porém, infelizmente, o mundo não é tão legal assim e as companhias ferroviárias brasileiras menos ainda. Além de que quase não se utilizou cabooses nas ferrovias do Brasil, sendo os poucos restantes utilizados em trens de manutenção.
Este caboose da MRS Logística foi transformado em vagão de manutenção de linha. Foto: Michael R. Silva.
A reutilização desses carros na função de moradia demonstra uma destinação bastante mais nobre do que ver os cemitérios de vagões espalhados por pátios de linhas mortas, coisa bastante comum pelos trechos ferroviários por todo o território brasileiro.
Já que é difícil encontrar exemplos por aqui, ou mesmo praticamente impossível executar esse tipo de reciclagem por essas bandas, que nos seja permitido ao menos apreciar o que fizeram por aí:
Featherbed, Napa Valley, Califórnia, interior.
Tiny House, de Marcia Weber, interior. Foto: Christina Nellemann.
Tiny House, de Marcia Weber, interior. Foto: Christina Nellemann.
Uma casa de viajar? “Ah se sesse!”. Foto: Mike Danneman.
[1] Mancal de rolamento ou de fricção com falha na lubrificação e consequente esquentamento e desgaste que, se não detectado a tempo, pode causar um acidente.
2 comentários:
Welber!!!
Que legal o seu blog!
Amei saber da historia dessas casinhas sobre rodas!
E dá muita pena de ver os trens enferrujando pelo país. Podia ser tanta coisa.
Lili, enquanto escrevia esse postzinho pensei n'outro mais firmeza sobre possibilidades de reversão de vagões abandonados em habitações, pelos vários pátios abandonados por aí. E não poucos.
Muita coisa pronta para um "minha casa no trenzinho, minha vida".
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