sábado, 3 de dezembro de 2011

Ferrovia e Bordel: A famosa Casa da Eny



Não é por acaso que Bauru, ainda, no período entre os anos 60 e 80, encerrando o ciclo dos grandes bordéis, dos rendez-vouz do interior, ganhou expressividade nacional, até internacional, pela existência, paralela com a zona do meretrício, "do maior e mais luxuoso bordel do Brasil, inigualável na América Latina", "um paraíso no meio do mato", uma versão moderna do maior latifúndio do prazer na cidade das ferrovias", pelas suas arrojadas acomodações internas e pelos serviços onde destacavam a qualidade das mulheres e o sigilo/discrição garantidos pela proprietária, local conhecido como a "Casa da Eny", um palácio de 12.000m² de luxúria e prazer, construído a partir de 1963 e localizado fora do perímetro urbano, na zona sul do lado oposto às demais casas de tolerância, destinadas ao baixo e médio meretrício. Essas casas, próximas aos trilhos, foram expulsas do centro da cidade, conforme decisão municipal em fins dos anos 50, visando proteger os "bons costumes" e oferecer as condições de segurança necessária para a febril especulação imobiliária, que tomou conta da cidade nos anos 60. No entanto, pelo prestígio da casa e de sua proprietária, a Casa de Eny foi protegida, pois durante o auge do governo populista de Juscelino Kubitschek (1955-1960), passaram por suas acomodações dois terços de todas as assembléias legislativas do Estado de São Paulo, muitos governadores de Estado e prefeitos da região, boa parte dos plantadores de cana e os filhos deles e, segundo afirmam, "pelo menos um presidente da República". E também por ter se transformado em centro de convenções do estado, uma vez que "para fechamento de grandes acordos de empresas e indústrias de porte (Bardhal e Dedini), onde a comemoração com chave de ouro na Eny era obrigatória, a casa da Eny recebeu a proteção suficiente para uma existência de cooptação com o podere de autonomia até 1983, quando por causa do progresso, da emancipação feminina, dos novos hábitos da sociedade, a liberação dos costumes, a crise da gasolina, e diante da modernização da sociedade que tornou anacrônico aquele ramo de negócio, foi vendidada pela sua proprietária.
Em 24 de agosto de 1987, então com 70 anos e bastante doente, faleceu a "rainha do Bas-fond bauruense", a "Maria Machadão do sudeste", a "ilustre dama da caridade", a "mulher que mais promoveu o nome de Bauru", a "cafetina e prostituta", a "Madame Eny", deixando muitas interrogações e até muita imaginação sobre sua atuação e permanência na cidade da ferrovia.

POSSAS, Lidia Maria Vianna. Mulheres, Trens e Trilhos. Bauru, SP: EDUSC, 2001, pp.134-36.

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