"Durante quase 2 anos o projeto Memória Ferroviária catalogou todas as locomotivas a vapor que restaram no Brasil. As equipes – formadas por pesquisador e fotógrafo – percorreram todo o país. Foram mais de 40 mil quilômetros de avião e 25 mil quilômetros rodados de carro, chegando a lugares extremos como Parnaíba, no Piauí, e Guajará-Mirim, em Rondônia. Foram localizadas 419 locomotivas a vapor em 190 cidades de 20 estados, além do Distrito Federal."
No lugar mais fácil de encontrar as peças, os colegas deixaram uma locomotiva "para trás".
Locomotiva nº 58
(São João del-Rei)
(São João del-Rei)
Ficha técnica
Fabricante: Baldwin Locomotive Works (Burnham, Williams & Co.)
Data de fabricação: Novembro de 1893
Placa: 13829
Tipo: Consolidation (2-8-0)
Bitola: 0,76m (2'6")
Expansão do vapor: Composta - tipo Vauclain Compound (convertida em Simples Expansão nas oficinas de Divinópolis na década de 1920)
Válvula de distribuição do vapor: tipo Stephenson (convertida em Walschaerts nas oficinas de Divinópolis em 1937)
Combustível: lenha (madeira) ou carvão (convertida em óleo BPF na década de 1950 devido à escassez e encarecimento da lenha)
Peso aderente: 18.534kg
Peso por eixo: 4.658,5kg
Esforço de tração: em torno de 5.000kg
Peso aderente: 18.534kg
Peso por eixo: 4.658,5kg
Esforço de tração: em torno de 5.000kg
Numeração[1]
Original: E. F. Oeste de Minas nº 29
Segundo: E. F. Oeste de Minas nº 208
Terceiro: Rede Mineira de Viação nº 58
Histórico
Com a expansão dos trilhos da Estrada de Ferro Oeste de Minas, no final do século XIX, em direção ao Rio São Francisco, além do conseqüente aumento do volume de carga a transportar, a companhia se viu obrigada a adquirir locomotivas com maior esforço de tração do que as que havia encomendado em sua primeira década de existência. Entre 1880 e 1887 a estrada recebeu apenas locomotivas do tipo American Standard (4-4-0), de dois eixos motrizes conjugados. Em 1889 o engenheiro Paulo Freitas de Sá decidiu pela aquisição de locomotivas de quatro eixos motrizes, sendo o melhor sucedido até então o tipo Consolidation (2-8-0).
Entre 1889 e 1894 a Oeste de Minas adquiriu dezessete exemplares. A locomotiva ora em questão veio em tal série.
Até o início da década de 1980 a locomotiva 58 prestava serviços, quando foi encostada à espera de um destino que poderia ser uma praça ou o maçarico de corte. No entanto, até o reconhecimento do remanescente da "bitolinha" da Estrada de Ferro Oeste de Minas como monumento nacional, e a oficialização do Complexo Ferroviário de São João del-Rei como sítio histórico, o veículo ainda se encontrava no pátio ferroviário em razoável estado de conservação.
Hoje, encontra-se em franco processo de sucateamento sob o teto da Carpintaria do dito Complexo Ferroviário.
Década de 1950. Foto Acervo NEOM-ABPF.
Década de 1960, Martinho Campos. Foto Acervo NEOM-ABPF.
1972, São João del-Rei. Foto de Guido Motta.
1974, São João del-Rei. Foto de Walter Serralheiro.
Capa da revista Trains: The Magazine of railroading, nov. 1981.
São João del-Rei, por volta de 1980. Foto Acervo NEOM-ABPF.
1984, São João del-Rei. Foto Acervo NEOM-ABPF.
1995, São João del-Rei. Foto Hugo Caramuru.
1998, São João del-Rei. Foto Hugo Caramuru.
1998, São João del-Rei. Foto de Welber Santos.
2006, São João del-Rei. Foto de Bruno Campos, Acervo NEOM-ABPF.
2009, São João del-Rei. Foto de Jonas Augusto, Acervo NEOM-ABPF.
[1] A numeração das locomotivas seguia a princípio a ordem de compra. As sessenta locomotivas para bitola de 0,76m da Oeste de Minas foram adquiridas entre 1880 e 1920. Na década de 20 a companhia, no intuito de reorganização do inventário, adotou novo critério de numeração praticado em ferrovias de padrão americano, qual seja, dividir em grupos de acordo com a rodagem das máquinas. As vinte e duas 4-4-0 (American Standard) ficaram com a sequência numérica de um e dois algarismos (de 1 a 22); as quatorze 4-6-0 (Ten-Wheeler) foram contempladas com a série 100 (de 100 a 113) e as vinte e duas 2-8-0 (Consolidation) contentaram-se com a série 200 (de 200 a 221). A renumeração definitiva veio em 1939 com a unificação do patrimônio da Rede Mineira de Viação, criada em 1931 com o arrendamento ao governo do Estado de Minas Gerais das E. F. Oeste de Minas (que já administrava a E. F. Paracatu) e a Rede Sul Mineira, que de 1931 a 1939 atendia pela razão social E. F. Sul de Minas. As locomotivas de bitola 0,76m passaram, todas, a receber matrículas de dois algarismos: 4-4-0, continuaram de 1 a 22; 4-6-0, de 30 a 43, e as 2-8-0, de 50 a 71. Fontes: CARAMURU, Hugo. "Histórias da EFOM e sucessoras" IN: PIMENTA, Demerval, José; ELEUTÉRIO, Arysbure Batista; CARAMURU, Hugo. As Ferrovias em Minas Gerais. BH : SESC, 2003; LIMA, Vasco de Castro. A Estrada de Ferro Sul de Minas (1884-1934). SP: Copas, 1934; Sociedade para Pesquisa e Memória do Trem - Inventário Geral de Locomotivas; Railroad Museum of Pennsylvania - excertos da lista geral de locomotivas construídas pela Baldwin Locomotive Works.
9 comentários:
Muito massa essa postagem! Já tinha visto ela antes e estava comentando sobre ela com o pessoal aqui em casa.
"...mais num vão!"
Eu não considero o inventário "mal executado", fazer um levantamento desses a nível de Brasil não é simples, sempre vai faltar algo. É a melhor referência que eu conheço no Brasil sobre as locomotivas a vapor que sobreviveram.
Eu só acho que o inventário como livro tem o problema de ser estático, deveria ser um banco de dados, quem sabe um site, pois muita coisa ali já mudou de lugar, de situação, etc.
BCS, tente reinterpretar o "mal executado" a partir do caso relatado no post. Não sejamos ingênuos sobre a existência não de incompetência sobre fazer o levantamento, mas o porquê de certas omissões. ;)
Se eu entendi direito a locomotiva esta no inventário, mas com dados incorretos, é isso?
Eu não consigo dizer que toda uma obra foi mal executada por causa de alguns erros. São muitas locomotivas, centenas, certamente vão existir erros.
Se algo como uns 30% das informações estiverem erradas, dai eu concordo que foi mal feito.
T+
Desenhando:
os caras viajaram pelo Brasil todo, passaram por lugares hostis e de acesso muito difícil, enfim, um trabalho penoso e desgastante. OK
Mas, olha, por que ao passarem pelo lugar de mais fácil acesso, em que tudo está ao alcance ali, sem matinho, sem morro, no sudeste, num complexo ferroviário que até outro dia era visitado por milhares de pessoas ao ano, em que os próprios pesquisadores (que nós sabemos quem são) omitiram, obviamente, não por não terem acesso e saberem que o bem está lá, mas por conivência ou qualquer outra coisa relacionada à má fé. Não se esqueça que o sítio em questão é objeto de investigação do MPF, e a locomotiva aqui referida é uma das peças provas da negligência da concessionária em cumprir o contrato com a União que a colocou como responsável por esse patrimônio.
Não é simples?
Pode até ser, mas pelas fotos e as datas, é mais provável que se aconteceu alguma tentativa de ocultar tenha sido por parte do IPHAN ou do MPF, pois pelas datas da foto a concessionária no máximo começou uma reforma do que já tinha sido abandonado pela RFFSA e abandonou.
Pode ter sido um simples erro, ela esta guardada onde? as vezes nem passaram perto do local...
Ela não foi inventariada e quem viu as locos 41, 42, 22 e 68 viu a 58. Não tem como omitir tendo passado por lá e fotografado. Aliás, é bastante chamativa.
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