terça-feira, 1 de março de 2011

GaxetaLeaks: OFF TOPIC? Não, isso é bem ON TOPIC, sempre! vol.XII

Se a história, não obstante, para a qual nos arrasta assim uma atração quase universalmente sentida, só tivesse isso para se justificar, se fosse apenas, em suma, um amável passatempo, como o bridge ou a pesca, valeria a pena todo o esforço que fazemos para escrevê-la? Para escrevê-la, quero dizer honestamente, indo verdadeiramente em direção, o máximo possível, às suas molas ocultas: por conseguinte por dificuldade. Os jogos, escreveu André Gide, deixaram hoje de nos ser permitidos: inclusive, acrescentava, os da inteligência. Isso era dito em 1938. Em 1942, quando por minha vez escrevo, o quão mais carregada de sentido mais pesado ficou tal declaração! Com toda certeza, num mundo que acaba de abordar a química do átomo e mal começa a sondar o segredo dos espaços estelares, em nosso pobre mundo que, justamente orgulhoso de sua ciência, não consegue todavia criar para si um pouco de felicidade, as longas minúcias de erudição histórica, muito capazes de devorar uma vida inteira, mereceriam ser condenadas como um desperdício de forças absurdo a ponto de ser criminoso, se devesse apenas servir para dissimular com um pouco de verdade uma de nossas distrações. Ou será preciso desaconselhar a prática da história a todos os espíritos capazes de serem melhor utilizados em outro lugar, ou é como conhecimento que a história terá de provar sua consciência limpa.
Mas aqui uma nova pergunta se coloca: o que, precisamente, torna legítimo um esforço intelectual?

BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício de Historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002, p.44.



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