Atualizado em 19 de dezembro de 2022.
Entre os carros da Oeste de Minas podem ser encontrados de três origens diferentes: a) importados dos EUA, construídos pela Harlan & Hollingsworth & Company, em Wilmington, Delaware; b) nacionais, construídos pela Companhia Edificadora, pela Companhia Trajano de Medeiros, no Rio de Janeiro e c) de construção própria nas oficinas da E. F. Oeste de Minas e Rede Mineira de Viação.
Devido às lamentáveis perdas que temos tido em relação ao nosso patrimônio ferroviário, em especial a do carro Alojamento RB-15, que era um raro exemplar sobrevivente construído pela Companhia Edificadora, resolvi criar este post.
Exemplar raro de veículo para bitola de 762 mm, construído pela Companhia Edificadora (CE) por volta de 1910 como carro Correio, Bagagens e Chefe do Trem, foi destacado posteriormente para trabalhos em trens de Socorro, praticamente sem alterações em sua morfologia. Listado pela Rede Ferroviária Federal S.A. como RB-15 e em bom estado de conservação em 1986 (e relistado em 2001), quando do início do processo de tombamento realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Uma característica dos carros CE era o uso de truques Harlan & Hollingsworth & Company (HH), por exigência da encomenda da diretoria da E. F. Oeste de Minas. Uma característica desses truques que os diferenciava dos demais existentes na estrada, todos com estrutura de madeira, era o fato de serem 100% de ferro e aço.
A partir de 1904, a HH passou a integrar a propriedade da Bethlehem Shipbuilding Corporation, mas apenas em 1921 teve a razão social extinta.
Detalhe do suporte do eixo. Truque HH do Carro A-3. Módulo I do Centro de Preservação da Memória Ferroviária de Minas Gerais, São João del-Rei. Foto de Jonas Augusto, Acervo NEOM-ABPF.
Carro Animais e Bagagem construído pela HH para as linhas em bitola métrica da E. F. Oeste de Minas. A data exata não é especificada, porém, a presença do equipamento de freio a ar automático Westinghouse indica ser anterior a 1912, momento em que o material rodante de bitola métrica da EFOM passou a utilizar equipamento de freio a vácuo Smith. Da mesma forma, em 1914, os engates link n'pin cederam lugar aos engates automáticos americanos. c. 1910. Foto Acervo NEOM-ABPF.
Carro Correio, Bagagem e Chefe do Trem construído pela HH para a E. F. Oeste de Minas. c. 1910. Foto Acervo NEOM-ABPF.
Dos carros da "bitolinha" sobreviventes, originados nos EUA, temos os: A-1 (atualmente em Belo Horizonte na antiga sede da SR-2 da RFFSA), A-3 (Módulo I do Museu Ferroviário de São João del-Rei), A-6 (rotunda de SJdR, estado precário). Já os construídos pela Companhia Edificadora, do Rio de Janeiro, com truques HH, temos o B-2, o B-13 e o B-14 - usados nos trens de sexta a domingo (mais feriados), o D-2 (em Antônio Carlos, MG, no marco zero da Oeste) e o RB-15. Alguns em mal estado por falta de conservação, outros necessitando de restauro, um em estado acelerado de decomposição e um perdido por completo descaso.
Carro D-2, Antônio Carlos, MG. Empregado como monumento no que seria o Marco Zero da E. F. Oeste de Minas. Com a equivocada inscrição "A mais estreita estrada de ferro do mundo". A "bitolinha" da Oeste nem do Brasil era a mais estreita. Fabricado pela CE no Rio de Janeiro com truques HH. 2007. Foto de Jonas Augusto.
Carro D-2, Antônio Carlos, MG. Após pintura nova em 2021. Destaque para a soleira da Companhia Edificadora e o truque Harlan & Hollingsworth. Foto de Welber Santos.
Carro A-1, com truques HH, jardim do antigo prédio da RFFSA SR-2, Belo Horizonte. Encontra-se em avançado estado de abandono. Foto de Bruno Campos.
O carro HH em melhor estado de conservação é o A-3, reconstruído em 1912 como especial, que ganhou o conforto do módulo I. Foto de Jonas Augusto.
Carro A-6, HH, parte externa do módulo I do museu. Encontra-se em estado delicado, sem devida conservação. Foto Acervo NEOM-ABPF.
B-2, CE com truques HH. Foto Acervo NEOM-ABPF.
B-14, CE com truques HH. Acervo NEOM-ABPF.
B-14, CE com truques HH, cuja matrícula foi alterada pela FCA S.A. na tentativa do gerente do complexo gerar confusão entre os denunciantes sobre o desvio de material realizado em "reformas" suspeitas. Foto Acervo Paul E. Waters.
Carro RB-15 em 1982, trem de Socorro. Fabricado por CE com truques HH. Fotos Acervo NEOM-ABPF.
Carro RB-15 em 2011. Restam dele apenas os truques HH. Se é que, a esta altura, resta alguma coisa. Foto de Bruno Campos.
12 comentários:
Cara, muito bom seu trabalho. Acho um baita descaso mesmo o que fazem com nosso patrimônio. Congratulations!!!
Pois é, Fabinho, e nós(ratos) continuamos mordendo a canela dos cães raivosos.
Em que parte do complexo ferroviário se encontra o Harlow & Hollingsworth A-5?
O A-5 está na carpintaria.
Há algumas semanas, eu estava passando pela rua do Vicenza Apart Hotel e vi no desvio do prédio de socorro da iluminação um vagão listado como "ALOJAMENTO" "COZINHA" "RB-17". Tem algo a ver com o RB-15?
RB é a matrícula dos carros e vagões destacados para os trens de Socorro. Pode ser um carro, uma prancha, um tanque, um box.
Nesse caso deveria ser um carro, desse usados em composições mistas. Voltei á estação outro dia e o RB-17 não estava mais lá, assim como outros dois boxes RFFSA TD-15. A FCA está com algum projeto de restauração? Ou está maçaricando todos eles?
Meu velho, já fizeram tanta merda, mas tanta merda... que eu não sei te responder.
Na plataforma de vagões "exóticos" da Estação de São João del-Rei há o carro A-7 (aquele com barras nas janelas) que também apresenta a inscrição Harlan & Hollingsworth em seus conjuntos de rodas. E supreendentemente, vi esses dias no carro A-5 que o mesmo tem inscrito em seus truques as palavras "Trajano de medeiros, Rio, 1916" Não tem lógica. Porque essa discrepância nos dois vagões?
O A-7 não é Harlam (Bethlehem), ele era o carro pagador, construído ou pela Trajano ou pela Oeste. Os truques podem ser transferidos, os "bolsters" são os mesmos.
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