terça-feira, 5 de junho de 2012

Eu pedia, ele levava - do cuidado e outras ternuras

Em 1981, marcado como centenário da Estrada de Ferro Oeste de Minas, por conta da inauguração realizada cem anos antes, era inaugurado o Museu Ferroviário de São João del-Rei. Na cerimônia pública, realizada na recém construída Praça dos Ferroviários, onde antes se encontrava um conjunto de edificações que foram demolidas para dar lugar à tal praça, lá estava meu pai com seu caçula de 3 anos ao seu forte e calejado ombro. Sobre isso a memória é bastante embaçada e pouco confiável, mas asseguro o detalhe descrito.
Não me lembro muito bem das visitas ao museu quando era apenas uma instalação no antigo armazém.
Em 1986, já com meus 8 anos, moleque já louco por trens, e especialmente pela tão famosa "bitolinha" da Oeste de Minas, lá estávamos para a nova inauguação, agora do "Centro de Preservação da Memória Ferroviária de Minas Gerais", que indicava que o museu agora era todo o Complexo Ferroviário de São João del-Rei.
A partir de então, pelos anos seguintes, até ganhar a independência de andar sozinho pela cidade, atormentava aquele senhor forte, paciente e sereno (dizem que a idade traz a serenidade para os homens para que lhes sobre paciência para com os filhos temporões) para me levar ao museu ferroviário, e isto era uma constante. Sempre que pedia, lá ele me levava.
Minha fascinação pela ferrovia não vem do meu pai, gosto não é coisa hereditária. Mas sempre deixei claro à ele minha gratidão por compartilhar esses momentos que, acredito, foram mais ricos do que o normal por ele ter sido parte da ferrovia e, com isso, moldar a possibilidade de conhecer mais a fundo. Ferroviários sempre voltam àquele ambiente, não por simples nostalgia, mas por ser aquilo parte de sua vida, e me lembro que ele gostava de contar seus dias como passageiro ou como trabalhador. Sem luxos, sem o acesso a mordomias ou cargos estrelares, na base de quem cuidava do caminho para que os outros passassem.

Esta é uma homenagem àquele que cuidava.

Hoje me despeço dele, que me criou como pôde e que, no final, ajudei a cuidar como pude, junto com meus irmãos.

Deixo pública minha gratidão.

Um comentário:

Débora Martins disse...

Que bonita homenagem Welbs, singela.
e nesses momentos ou sobre essas coisas nada do que a gente diz parece apropriado. Fica então um beijo no coração! :)