terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

OFF TOPIC? Não, isso é bem ON TOPIC, sempre! vol.II

A expressão 'no correr do tempo' parece implicar que os homens, e talvez o universo inteiro, flutuariam  no tempo como num rio. Neste e em muitos outros casos, a forma substantiva que se dá à noção de tempo contribui muito, com certeza, para criar a ilusão de que ele seria uma espécie de coisa 'no espaço-tempo'. O emprego de uma forma verbal ajuda a nos desvencilharmos dessa ilusão e mostra que a determinação do tempo, ou a sincronização, representa uma atividade humana a serviço de objetivos precisos. Não existe nela uma relação, mas uma operação de estabelecimento de relações. Daí a pergunta: quais são, portanto, o sujeito e o objeto desse estabelecimento de relações, e com que finalidade ele é efetuado?
O primeiro passo em direção de uma resposta é relativamente simples: a palavra 'tempo', diríamos, designa simbolicamente a relação que um grupo humano, ou qualquer grupo de seres vivos dotado de uma capacidade biológica de memória e de síntese, estabelece entre dois ou mais processos, um dos quais é padronizado para servir aos outros como quadro de referência e padrão de medida. (...)
Os grupos humanos são capazes de recolocar e de vivenciar os acontecimentos na dimensão do tempo, na exata medida em que, por um lado, dentro de sua vida social colocam-se problemas que requerem uma determinação social, e, por outro, sua organização social e seus conhecimentos lhes permitem utilizar uma série evolutiva como quadro de referência e padrão de medida para outra.

Norbert Elias


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